Somos extremamente egoístas – a ponto de pensarmos em dar a alguém só para recebermos mais em troca. Porém, o
sistema segundo o qual Deus trabalha conosco na Lei do Dar e Receber é justamente uma forma de se quebrar o egoísmo. Ele nos ensina a darmos porque Ele não quer que estejamos presos a nada. E, quando nos desprendemos, Ele sabe que estamos demonstrando maturidade para recebermos mais.
Para muitos crentes hoje, o fato de serem abençoados financeiramente não significaria uma bênção tão grande assim,
pois, devido ao seu egoísmo e imaturidade, prejuízos poderiam ocorrer até mesmo com a entrada de recursos financeiros.
O Filho Pródigo que o diga! Ele não tinha maturidade alguma para receber o que recebeu. Assim sendo, dissipou tudo! Através do nosso dar, da nossa liberação sincera e despretensiosa, acionamos um princípio pelo qual podemos receber de Deus. Mas a dádiva egocêntrica não se enquadra no todo das leis divinas quanto ao dar e receber.
Vemos pessoas na Bíblia que deram sem ser abençoadas, como Ananias e Safira, por exemplo. O ato de dar não pode ser visto isoladamente. Assim como falamos da semente que precisa morrer para germinar e frutificar, assim também, na Lei do Dar e Receber, o dar tem que ser uma entrega que quebre o egoísmo.
Não negamos que o próprio Deus instituiu a Lei do Dar e Receber, mas isto não quer dizer que barganhar com Ele seja
forma de se receber algo. Dar é melhor do que receber porque é uma ajuda no processo de se quebrar o egoismo e nos
prepara para recebermos com uma atitude melhor.
EXEMPLOS BÍBLICOS
Há uma diversidade de exemplos bíblicos que demonstram o funcionamento da Lei do Dar e Receber.
Muitas vezes concluímos erroneamente que os relatos bíblicos são uma mera descrição histórica. Mas, por trás de
cada episódio, há uma lição a ser aprendida:
“Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança” Romanos 15.4
Paulo citou este fato aos coríntios, mostrando a razão pela qual os registros históricos de Israel chegaram até nós: para nos servir de exemplo e advertência.
“Estas coisas lhes sobrevieram como exemplos e foram escritas para advertência nossa, de nós outros sobre quem os fins dos séculos têm chegado.” 1 Coríntios 10.11
Vamos examinar vários destes exemplos e aprender com eles. Creio que o Antigo Testamento ilustra o Novo, enquanto que o Novo, por sua vez, explica o Antigo Testamento.
O EXEMPLO DE ELIAS
Há uma lição a ser aprendida com um ocorrido na vida do profeta Elias. Depois de ter profetizado acerca da seca em
Israel, Deus o escondeu da perseguição de Acabe e o sustentou durante um certo período de forma sobrenatural:
“Veio-lhe a palavra do Senhor, dizendo: Retira-te daqui, vai para o lado oriental e esconde-te junto à torrente de
Querite, fronteira ao Jordão. Beberás da torrente; e ordenei aos corvos que ali mesmo te sustentem. Foi, pois, e fez segundo a palavra do Senhor; retirou-se e habitou junto à torrente de Querite, fronteira ao Jordão. Os corvos lhe traziam pela manhă pão e carne, como também pão e carne ao anoitecer; e bebia da torrente.” 1 Reis 17.2-6
Mas, num dado momento, a direção de Deus para Elias tornou-se diferente. Ao invés de continuar a sustentá-lo como
vinha fazendo, o Senhor lhe deu uma nova direção:
“Mas, passados dias, a torrente secou, porque não chovia sobre a terra. Então, lhe veio a palavra do Senhor, dizendo: Dispõe-te, e vai a Sarepta, que pertence a Sidom, e demora-te ali, onde ordenei a uma mulher viúva que te dê comida.” 1 Reis 17.7-9
O profeta Elias se encontrava sendo sustentado de forma sobrenatural por meio daqueles corvos. Não seria um problema para o nosso Deus Onipotente trazer o seu suprimento de água também de forma sobrenatural, mas creio que o Senhor não tinha só Elias em mente, pois Ele mencionou uma viúva em cuja vida Ele decidira intervir. Como o profeta já tinha um sustento sobrenatural e poderia continuar a tê-lo, e a mulher por sua vez, estava diante da sua última refeição, sou levado a crer que o verdadeiro propósito do milagre era a mulher viúva. Este texto não diz que Elias foi enviado até lá por causa dela, mas é desta forma que entendo este acontecimento, pois Jesus o apresentou nestes termos:
“Na verdade vos digo que muitas viúvas havia em Israel no tempo de Elias, quando o céu se fechou por três anos e seis meses, reinando grande fome em toda a terra; e a nenhuma delas foi Elias enviado, senão a uma viúva de Sarepta de Sidom” Lucas 4.25,26
Cristo disse que Elias foi enviado a uma viúva gentílica (para abençoá-la), e não a uma israelita. Isto mostra que o profeta não foi enviado apenas para receber algo, mas principalmente para liberar uma bênção sobre aquela mulher! Elias era o meio através do qual ela praticaria a Lei do Dar e Receber. O texto a seguir nos mostra de forma implícita esta lei:
“Então, ele se levantou e se foi a Sarepta; chegando à porta da cidade, estava ali uma mulher viúva apanhando lenha
ele a chamou e lhe disse: Traze-me, peço-te, uma vasilha de água para eu beber. Indo ela a buscá-la, ele a chamou e lhe disse: Traze-me também um bocado de pão na tua mão. Porém ela respondeu: Tão certo como vive o Senhor, teu Deus, nada tenho somente um punhado de farinha numa panela e um pouco de azeite numa botija; e, vês aqui, apanhei dois cavacos e vou preparar esse resto de comida para mim e para o meu filho; comê-lo-emos e morreremos. Elias lhe disse: Não temas; vai e faze o que disseste; mas primeiro faze dele para mim um bolo pequeno e traze-mo aqui fora; depois, farás para ti mesma e para teu filho. Porque assim diz o Senhor, Deus de Israel: A farinha da tua panela não se acabará, e o azeite da tua botija não faltará, até ao dia em que o Senhor fizer chover sobre a terra.
Foi ela e fez segundo a palavra de Elias; assim, comeram ele, ela e a sua casa muitos dias. Da panela a farinha não se acabou, da botija o azeite não faltou, segundo a palavra do Senhor, por intermédio de Elias.” 1 Reis 17.10-16
Se aquela mulher tivesse comido a sua última refeição, ela não teria mais como acionar a Lei do Dar e Receber
Há muitos anos atrás, li num estudo bíblico do irmão Dave Roberson uma aplicação deste exemplo. Ele dizia que é
nos momentos de maior necessidade que devemos nos abrir para darmos.
Muitos crentes, na hora do aperto financeiro, cortam do seu orçamento justamente o que jamais deveria ser cortado:
a Lei do Dar (e Receber). Eu passei então a seguir o conselho do irmão Roberson e eu tenho dado nas horas em que menos tenho para dar. Tenho vivido isto, e sempre vejo a provisão de Deus! Ainda que nem sempre ela seja instantânea, todavia nunca falha.
Nas horas de dificuldades financeiras, precisamos estar atentos porque Deus sempre cria oportunidades para que
possamos dar do pouco que temos. Precisamos estar atentos às oportunidades divinas que talvez não venham de forma tão clara como achamos que viriam.
Por exemplo, a Bíblia diz que alguns hospedaram anjos sem saberem (Hb 13.2). Por que será que Deus mandar anjos sem que eles revelassem que eram anjos?
Certamente não é porque os anjos precisem de coisa alguma, pois eles não necessitam de comida, nem de roupa, nem
de hospedagem. Talvez Deus os envie só para nos testar se supriríamos as suas necessidades ou não, pois, se soubéssemos que se tratava de anjos, talvez o fizéssemos por motivos diferentes.
E o envio de anjos para receber a hospitalidade reforça o que estamos dizendo, pois, embora os anjos não precisem
da hospitalidade recebida, certamente a hospitalidade praticada produzirá bênçãos sobre a vida de quem a exerceu!
Há momentos em que precisamos discernir as oportunidades. Pessoas com necessidades podem estar diante de nós
em momentos em que também estamos precisando de provisão. Se o nosso coração nos der um indício de que devemos
ajudar, e se isto estiver ao nosso alcance, então devemos ajudar.
Já ofertei na vida de pessoas simplesmente porque na hora senti o desejo de fazê-lo (mesmo sem poder), e só depois
percebi que isto acabou sendo algo que Deus usou, não apenas para suprir estas pessoas, mas também para me impedir
de comer uma “semente” (como se fosse “pão”), e, assim sendo, desperdiçá-la!
O EXEMPLO DE JESUS NO BARCO DE PEDRO
Numa certa ocasião, Jesus precisou usar o barco de Pedro, e ele o disponibilizou ao Senhor:
“Aconteceu que, ao apertá-lo a multidão para ouvir a palavra de Deus, estava ele junto ao lago de Genesaré; e viu dois barcos junto à praia do lago; mas os pescadores, havendo desembarcado, lavavam as redes. Entrando em um dos barcos, que era o de Simão, pediu-lhe que o afastasse um pouco da praia; e, assentando-se, ensinava do barco as multidões.” Lucas 5.13
O pescador aceitou, e apesar da frustração de nada ter pescado à noite (e da necessidade de voltar ao trabalho) deu o barco a Jesus, e, por trás da gentileza praticada, acionou (ainda que inconscientemente) a Lei do Dar e Receber.
“Quando acabou de falar, disse a Simão: Faze-te ao largo, e lançai as vossas redes para pescar. Respondeu-lhe Simão: Mestre, havendo trabalhado toda a noite, nada apanhamos, mas sob a tua palavra lançarei as redes. Isto fazendo, apanhara grande quantidade de peixes; e rompiam-se-lhes as redes. Então, fizeram sinais aos companheiros do outro barco, para que fossem ajudá-los. E foram e encheram ambos os barcos, a ponto de quase irem a pique.”
Lucas 5.4-7
Ele recebeu de volta por seus préstimos uma quantia de peixes que não poderia ter pescado por si só. Quando damos
alguma coisa a Deus, sempre recebemos muito mais de volta! Nunca ninguém, em ocasião alguma, jamais conseguirá
vencer a Deus no dar! Tudo o que damos sempre nos voltará em boa medida, recalcada, sacudida e transbordante. Foi o
que aconteceu com Pedro nesta ocasião e é também um princípio válido para nós hoje!
O EXEMPLO DE ABRAÃO
Depois de pedir a Abraão o seu filho amado (ainda que não foi necessário ele chegar às últimas consequências deste
ato), Deus renovou com o patriarca a Sua aliança de abençoar as famílias da terra por seu intermédio (Gn 22.15-18). O patriarca foi inserido em promessas que envolviam o ato redentor de Deus para com a humanidade.
Pelo fato de que Abraão deu o seu filho ao Senhor, ele fortaleceu o direito de receber de Deus a entrega do Seu Filho como um canal de redenção a todas as famílias da Terra.
A Lei do Dar e Receber não é algo que Deus impôs somente a nós, mas é também algo que Ele próprio utiliza.
O EXEMPLO DE ANA
Um belo exemplo bíblico da Lei do Dar e Receber pode ser visto na vida de Ana, a mãe do profeta Samuel.
As Escrituras Sagradas afirmam que ela não podia gerar filhos, pois ela era estéril (1 Sm 1.5,6), mas, ainda assim, ela ofereceu ao Senhor Deus o filho que ela teria, caso viesse a experimentar um milagre:
“E fez um voto, dizendo: Senhor dos Exércitos, se benignamente atentares para a aflição da tua serva, e de mim te lembrares, e da tua serva te não esqueceres, e lhe deres um filho varão, ao Senhor o darei por todos os dias da sua vida, e sobre a sua cabeça não passará navalha.” 1 Samuel 1.11
Depois que Samuel nasceu e ela o desmamou, Ana cumpriu o voto dela, e, para dedicá-lo a Deus, ela o levou ao
Templo, onde o deixou aos cuidados de Eli, o sacerdote que antes a teve por embriagada (1 Sm 1.24-28).
E o que aconteceu com Ana?
A lei do receber funcionou para aquela que deu:
“Eli abençoava a Elcana e a sua mulher e dizia: O Senhor te dê filhos desta mulher, em lugar do filho que devolveu ao Senhor E voltavam para a sua casa. Abençoou, pois, o Senhor a Ana, e ela concebeu e teve três filhos e duas filhas; e o jovem Samuel crescia diante do Senhor” 1 Samuel 2.20,21
Ana ainda não tinha nenhum filho, mas, ao dá-lo a Deus, recebeu outros cinco. E o interessante é que ela deu antes de ter para dar. Podemos dizer que foi uma dádiva de fé.
Já fiz isto algumas vezes. Já orei ao Senhor, consagrando a Ele recursos que eu ainda não tinha! Em minhas orações eu Lhe disse o que eu gostaria de ofertar, mas que antes eu precisaria receber d’Ele, para então poder devolver-Lhe. Fiz isto mesmo não tendo nada para dar nestas ocasiões, e, quando as respostas das orações vieram, cumpri a promessa e entreguei imediatamente o que eu havia me comprometido ofertar ao Senhor.
A Lei do Dar e Receber é tão forte que até o que votamos ao Senhor, mesmo antes de termos, já gera resultados
O EXEMPLO DA SUNAMITA
Temos ainda uma outra lição bíblica do Antigo Testamento a ser examinada. Uma mulher sunamita, cujo nome não é mencionado, tratou com muita hospitalidade o profeta:
“Certo dia, passou Eliseu por Suném, onde se achava uma mulher rica, a qual o constrangeu a comer pão. Dai, todas as vezes que passava por lá, entrava para comer. Ela disse a seu marido: Vejo que este que passa sempre por nós é santo homem de Deus. Façamos-lhe, pois, em cima, um pequeno quarto, obra de pedreiro, e ponhamos-lhe nele uma cama, uma mesa, uma cadeira e um candeeiro; quando ele vier à nossa casa, retirar-se-á para ali.” 2 Reis 4.8-10
Diante da hospitalidade praticada, Eliseu sentiu-se movido a abençoar aquela família:
“Um dia, vindo ele para ali, retirou-se para o quarto e se deitou. Então, disse ao seu moço Geazi: Chama esta sunamita. Chamando-a ele, ela se pôs diante do profeta. Este dissera ao seu moço: Dize-lhe: Eis que tu nos tens tratado com muita abnegação; que se há de fazer por ti? Haverá alguma coisa de que se fale a teu favor ao rei ou ao comandante do exército? Ela respondeu: Habito no meio do meu povo. Então, disse o profeta: Que se há de fazer por ela? Geazi respondeu: Ora, ela não tem filho, e seu marido é velho. Disse Eliseu: Chama-a. Chamando-a ele, ela se pôs à porta. Disse-lhe o profeta: Por este tempo, daqui a um ano, abraçarás um filho. Ela disse: Não, meu senhor, homem de Deus, não mintas à tua serva. Concebeu a mulher e deu à luz um filho, no tempo determinado, quando fez um ano, segundo Eliseu lhe dissera.” 2 Reis 4.11-17
Eliseu não operava milagres como e quando ele bem entendia. Ele era um profeta guiado pelo Espírito de Deus, e,
em meu entendimento, se há uma razão descrita para que ele se sentisse incomodado a abençoá-la, é justamente porque ele percebeu que ela tinha este direito; esta mulher havia acionado a Lei do Dar e Receber!
Este texto não é apenas mais uma “coincidência bíblica”, e sim mais uma parte de um quebra-cabeças repleto de figuras e exemplos de que quem dá recebe!
MUITAS VEZES MAIS
Certa vez o apóstolo Pedro lembrou a Jesus de tudo o que eles, os discípulos, haviam deixado por Ele, e perguntou-Lhe qual seria a recompensa deles:
“Então, lhe falou Pedro: Eis que nós tudo deixamos e te seguimos; que será, pois, de nós? Jesus lhes respondeu: Em verdade vos digo que vós, os que me seguistes, quando, na regeneração, o Filho do Homem se assentar no trono da sua glória, também vos assentareis em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel. E todo aquele que tiver deixado casas, ou irmãos ou irmãs, ou pai, ou mãe ou mulher ou filhos, ou campos, por causa do meu nome, receberá muitas vezes mais e herdará a vida eterna.” Mateus 19.27-29
A resposta do Senhor Jesus Cristo ao apóstolo Pedro permite que entendamos alguns principios ligados à Lei do
Dar e Receber.
Em primeiro lugar, vemos que a recompensa de tudo o que fazemos (incluindo as nossas dádivas) não é meramente
terrena! Sempre há o aspecto celestial, o aspecto do galardão! O Senhor fala de uma dimensão de honra na eternidade, na glória celestial. Além do que provamos no reino natural ao darmos
a Lei do Dar e Receber também se estende ao reino espiritual.
Em segundo lugar, Ele fala que receberemos muitas vezes mais do que deixamos para trás por causa d’Ele: as coisas
terrenas! E é esta forma de recebermos que precisa ser entendida mais profundamente.
Jesus falou que receberíamos de volta algumas coisas que deixamos por amor a Ele, mas nem sempre recebemos coisas com as mesmas características da nossa entrega. Por exemplo, ao deixar casas e campos, não preciso recebê-los de volta “de papel passado”, mas posso me enquadrar na posição de receber, simplesmente por estarem à minha disposição!
Há momentos em que, na forma de recebermos o que damos, Deus nos poupa de nos centrarmos em nós mesmos.
Já afirmamos que uma das razões pelas quais Deus estabeleceu a Lei do Dar e Receber foi para quebrar o nosso
egoísmo, uma vez que somos tremendamente centralizados em nós mesmos. Logo, não podemos usar esta lei só por causa
nosso egoísmo, com a intenção de darmos para recebermos algo melhor em troca. Quando damos visando só o nosso beneficio próprio, quebramos um outro princípio bíblico e somos impedidos de recebermos. Observe o que diz a Palavra de Deus:
“Nada tendes, porque não pedis; pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres.” Tiago 4.2b,3
Depois de mostrar que muitos não recebem por não pedirem – o que indica que uma das formas de recebermos
de Deus é pela oração e súplica – Tiago denuncia que alguns, mesmo usando a oração, não alcançam nada de Deus! E a razão de não receberem de Deus é porque estão voltados só a si mesmos! Deus não pode alimentar o nosso egoísmo!
Jesus Cristo nos incluiu em Sua morte na Cruz exatamente para aniquilar este nosso egoísmo. Aí então Ele estabeleceu uma lei espiritual onde o nosso egoísmo cancela o funcionamento de outros princípios do reino espiritual. Isto se aplica com relação à oração e também com relação à Lei do Dar e Receber.
No entanto, Deus não nos impede de sairmos do enquadramento da Cruz! Precisamos aprender a dar, pelo ato de dar
em si, e não somente por causa da reciprocidade do receber.
A contribuição não pode ser considerada como uma espécie de título de capitalização, que eu invisto hoje só para
receber amanhã. Outros princípios se somam a Lei de Dar e Receber e deve haver um funcionamento em conjunto de todos estes princípios para que vejamos os resultados.
Há uma diversidade de exemplos bíblicos que demonstram o funcionamento da Lei do Dar e Receber.
Muitas vezes concluímos erroneamente que os relatos bíblicos são uma mera descrição histórica. Mas, por trás de
cada episódio, há uma lição a ser aprendida:
“Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança” Romanos 15.4
Paulo citou este fato aos coríntios, mostrando a razão pela qual os registros históricos de Israel chegaram até nós: para nos servir de exemplo e advertência.
“Estas coisas lhes sobrevieram como exemplos e foram escritas para advertência nossa, de nós outros sobre quem os fins dos séculos têm chegado.” 1 Coríntios 10.11
Vamos examinar vários destes exemplos e aprender com eles. Creio que o Antigo Testamento ilustra o Novo, enquanto que o Novo, por sua vez, explica o Antigo Testamento.
O EXEMPLO DE ELIAS
Há uma lição a ser aprendida com um ocorrido na vida do profeta Elias. Depois de ter profetizado acerca da seca em
Israel, Deus o escondeu da perseguição de Acabe e o sustentou durante um certo período de forma sobrenatural:
“Veio-lhe a palavra do Senhor, dizendo: Retira-te daqui, vai para o lado oriental e esconde-te junto à torrente de
Querite, fronteira ao Jordão. Beberás da torrente; e ordenei aos corvos que ali mesmo te sustentem. Foi, pois, e fez segundo a palavra do Senhor; retirou-se e habitou junto à torrente de Querite, fronteira ao Jordão. Os corvos lhe traziam pela manhă pão e carne, como também pão e carne ao anoitecer; e bebia da torrente.” 1 Reis 17.2-6
Mas, num dado momento, a direção de Deus para Elias tornou-se diferente. Ao invés de continuar a sustentá-lo como
vinha fazendo, o Senhor lhe deu uma nova direção:
“Mas, passados dias, a torrente secou, porque não chovia sobre a terra. Então, lhe veio a palavra do Senhor, dizendo: Dispõe-te, e vai a Sarepta, que pertence a Sidom, e demora-te ali, onde ordenei a uma mulher viúva que te dê comida.” 1 Reis 17.7-9
O profeta Elias se encontrava sendo sustentado de forma sobrenatural por meio daqueles corvos. Não seria um problema para o nosso Deus Onipotente trazer o seu suprimento de água também de forma sobrenatural, mas creio que o Senhor não tinha só Elias em mente, pois Ele mencionou uma viúva em cuja vida Ele decidira intervir. Como o profeta já tinha um sustento sobrenatural e poderia continuar a tê-lo, e a mulher por sua vez, estava diante da sua última refeição, sou levado a crer que o verdadeiro propósito do milagre era a mulher viúva. Este texto não diz que Elias foi enviado até lá por causa dela, mas é desta forma que entendo este acontecimento, pois Jesus o apresentou nestes termos:
“Na verdade vos digo que muitas viúvas havia em Israel no tempo de Elias, quando o céu se fechou por três anos e seis meses, reinando grande fome em toda a terra; e a nenhuma delas foi Elias enviado, senão a uma viúva de Sarepta de Sidom” Lucas 4.25,26
Cristo disse que Elias foi enviado a uma viúva gentílica (para abençoá-la), e não a uma israelita. Isto mostra que o profeta não foi enviado apenas para receber algo, mas principalmente para liberar uma bênção sobre aquela mulher! Elias era o meio através do qual ela praticaria a Lei do Dar e Receber. O texto a seguir nos mostra de forma implícita esta lei:
“Então, ele se levantou e se foi a Sarepta; chegando à porta da cidade, estava ali uma mulher viúva apanhando lenha
ele a chamou e lhe disse: Traze-me, peço-te, uma vasilha de água para eu beber. Indo ela a buscá-la, ele a chamou e lhe disse: Traze-me também um bocado de pão na tua mão. Porém ela respondeu: Tão certo como vive o Senhor, teu Deus, nada tenho somente um punhado de farinha numa panela e um pouco de azeite numa botija; e, vês aqui, apanhei dois cavacos e vou preparar esse resto de comida para mim e para o meu filho; comê-lo-emos e morreremos. Elias lhe disse: Não temas; vai e faze o que disseste; mas primeiro faze dele para mim um bolo pequeno e traze-mo aqui fora; depois, farás para ti mesma e para teu filho. Porque assim diz o Senhor, Deus de Israel: A farinha da tua panela não se acabará, e o azeite da tua botija não faltará, até ao dia em que o Senhor fizer chover sobre a terra.
Foi ela e fez segundo a palavra de Elias; assim, comeram ele, ela e a sua casa muitos dias. Da panela a farinha não se acabou, da botija o azeite não faltou, segundo a palavra do Senhor, por intermédio de Elias.” 1 Reis 17.10-16
Se aquela mulher tivesse comido a sua última refeição, ela não teria mais como acionar a Lei do Dar e Receber
Há muitos anos atrás, li num estudo bíblico do irmão Dave Roberson uma aplicação deste exemplo. Ele dizia que é
nos momentos de maior necessidade que devemos nos abrir para darmos.
Muitos crentes, na hora do aperto financeiro, cortam do seu orçamento justamente o que jamais deveria ser cortado:
a Lei do Dar (e Receber). Eu passei então a seguir o conselho do irmão Roberson e eu tenho dado nas horas em que menos tenho para dar. Tenho vivido isto, e sempre vejo a provisão de Deus! Ainda que nem sempre ela seja instantânea, todavia nunca falha.
Nas horas de dificuldades financeiras, precisamos estar atentos porque Deus sempre cria oportunidades para que
possamos dar do pouco que temos. Precisamos estar atentos às oportunidades divinas que talvez não venham de forma tão clara como achamos que viriam.
Por exemplo, a Bíblia diz que alguns hospedaram anjos sem saberem (Hb 13.2). Por que será que Deus mandar anjos sem que eles revelassem que eram anjos?
Certamente não é porque os anjos precisem de coisa alguma, pois eles não necessitam de comida, nem de roupa, nem
de hospedagem. Talvez Deus os envie só para nos testar se supriríamos as suas necessidades ou não, pois, se soubéssemos que se tratava de anjos, talvez o fizéssemos por motivos diferentes.
E o envio de anjos para receber a hospitalidade reforça o que estamos dizendo, pois, embora os anjos não precisem
da hospitalidade recebida, certamente a hospitalidade praticada produzirá bênçãos sobre a vida de quem a exerceu!
Há momentos em que precisamos discernir as oportunidades. Pessoas com necessidades podem estar diante de nós
em momentos em que também estamos precisando de provisão. Se o nosso coração nos der um indício de que devemos
ajudar, e se isto estiver ao nosso alcance, então devemos ajudar.
Já ofertei na vida de pessoas simplesmente porque na hora senti o desejo de fazê-lo (mesmo sem poder), e só depois
percebi que isto acabou sendo algo que Deus usou, não apenas para suprir estas pessoas, mas também para me impedir
de comer uma “semente” (como se fosse “pão”), e, assim sendo, desperdiçá-la!
O EXEMPLO DE JESUS NO BARCO DE PEDRO
Numa certa ocasião, Jesus precisou usar o barco de Pedro, e ele o disponibilizou ao Senhor:
“Aconteceu que, ao apertá-lo a multidão para ouvir a palavra de Deus, estava ele junto ao lago de Genesaré; e viu dois barcos junto à praia do lago; mas os pescadores, havendo desembarcado, lavavam as redes. Entrando em um dos barcos, que era o de Simão, pediu-lhe que o afastasse um pouco da praia; e, assentando-se, ensinava do barco as multidões.” Lucas 5.13
O pescador aceitou, e apesar da frustração de nada ter pescado à noite (e da necessidade de voltar ao trabalho) deu o barco a Jesus, e, por trás da gentileza praticada, acionou (ainda que inconscientemente) a Lei do Dar e Receber.
“Quando acabou de falar, disse a Simão: Faze-te ao largo, e lançai as vossas redes para pescar. Respondeu-lhe Simão: Mestre, havendo trabalhado toda a noite, nada apanhamos, mas sob a tua palavra lançarei as redes. Isto fazendo, apanhara grande quantidade de peixes; e rompiam-se-lhes as redes. Então, fizeram sinais aos companheiros do outro barco, para que fossem ajudá-los. E foram e encheram ambos os barcos, a ponto de quase irem a pique.”
Lucas 5.4-7
Ele recebeu de volta por seus préstimos uma quantia de peixes que não poderia ter pescado por si só. Quando damos
alguma coisa a Deus, sempre recebemos muito mais de volta! Nunca ninguém, em ocasião alguma, jamais conseguirá
vencer a Deus no dar! Tudo o que damos sempre nos voltará em boa medida, recalcada, sacudida e transbordante. Foi o
que aconteceu com Pedro nesta ocasião e é também um princípio válido para nós hoje!
O EXEMPLO DE ABRAÃO
Depois de pedir a Abraão o seu filho amado (ainda que não foi necessário ele chegar às últimas consequências deste
ato), Deus renovou com o patriarca a Sua aliança de abençoar as famílias da terra por seu intermédio (Gn 22.15-18). O patriarca foi inserido em promessas que envolviam o ato redentor de Deus para com a humanidade.
Pelo fato de que Abraão deu o seu filho ao Senhor, ele fortaleceu o direito de receber de Deus a entrega do Seu Filho como um canal de redenção a todas as famílias da Terra.
A Lei do Dar e Receber não é algo que Deus impôs somente a nós, mas é também algo que Ele próprio utiliza.
O EXEMPLO DE ANA
Um belo exemplo bíblico da Lei do Dar e Receber pode ser visto na vida de Ana, a mãe do profeta Samuel.
As Escrituras Sagradas afirmam que ela não podia gerar filhos, pois ela era estéril (1 Sm 1.5,6), mas, ainda assim, ela ofereceu ao Senhor Deus o filho que ela teria, caso viesse a experimentar um milagre:
“E fez um voto, dizendo: Senhor dos Exércitos, se benignamente atentares para a aflição da tua serva, e de mim te lembrares, e da tua serva te não esqueceres, e lhe deres um filho varão, ao Senhor o darei por todos os dias da sua vida, e sobre a sua cabeça não passará navalha.” 1 Samuel 1.11
Depois que Samuel nasceu e ela o desmamou, Ana cumpriu o voto dela, e, para dedicá-lo a Deus, ela o levou ao
Templo, onde o deixou aos cuidados de Eli, o sacerdote que antes a teve por embriagada (1 Sm 1.24-28).
E o que aconteceu com Ana?
A lei do receber funcionou para aquela que deu:
“Eli abençoava a Elcana e a sua mulher e dizia: O Senhor te dê filhos desta mulher, em lugar do filho que devolveu ao Senhor E voltavam para a sua casa. Abençoou, pois, o Senhor a Ana, e ela concebeu e teve três filhos e duas filhas; e o jovem Samuel crescia diante do Senhor” 1 Samuel 2.20,21
Ana ainda não tinha nenhum filho, mas, ao dá-lo a Deus, recebeu outros cinco. E o interessante é que ela deu antes de ter para dar. Podemos dizer que foi uma dádiva de fé.
Já fiz isto algumas vezes. Já orei ao Senhor, consagrando a Ele recursos que eu ainda não tinha! Em minhas orações eu Lhe disse o que eu gostaria de ofertar, mas que antes eu precisaria receber d’Ele, para então poder devolver-Lhe. Fiz isto mesmo não tendo nada para dar nestas ocasiões, e, quando as respostas das orações vieram, cumpri a promessa e entreguei imediatamente o que eu havia me comprometido ofertar ao Senhor.
A Lei do Dar e Receber é tão forte que até o que votamos ao Senhor, mesmo antes de termos, já gera resultados
O EXEMPLO DA SUNAMITA
Temos ainda uma outra lição bíblica do Antigo Testamento a ser examinada. Uma mulher sunamita, cujo nome não é mencionado, tratou com muita hospitalidade o profeta:
“Certo dia, passou Eliseu por Suném, onde se achava uma mulher rica, a qual o constrangeu a comer pão. Dai, todas as vezes que passava por lá, entrava para comer. Ela disse a seu marido: Vejo que este que passa sempre por nós é santo homem de Deus. Façamos-lhe, pois, em cima, um pequeno quarto, obra de pedreiro, e ponhamos-lhe nele uma cama, uma mesa, uma cadeira e um candeeiro; quando ele vier à nossa casa, retirar-se-á para ali.” 2 Reis 4.8-10
Diante da hospitalidade praticada, Eliseu sentiu-se movido a abençoar aquela família:
“Um dia, vindo ele para ali, retirou-se para o quarto e se deitou. Então, disse ao seu moço Geazi: Chama esta sunamita. Chamando-a ele, ela se pôs diante do profeta. Este dissera ao seu moço: Dize-lhe: Eis que tu nos tens tratado com muita abnegação; que se há de fazer por ti? Haverá alguma coisa de que se fale a teu favor ao rei ou ao comandante do exército? Ela respondeu: Habito no meio do meu povo. Então, disse o profeta: Que se há de fazer por ela? Geazi respondeu: Ora, ela não tem filho, e seu marido é velho. Disse Eliseu: Chama-a. Chamando-a ele, ela se pôs à porta. Disse-lhe o profeta: Por este tempo, daqui a um ano, abraçarás um filho. Ela disse: Não, meu senhor, homem de Deus, não mintas à tua serva. Concebeu a mulher e deu à luz um filho, no tempo determinado, quando fez um ano, segundo Eliseu lhe dissera.” 2 Reis 4.11-17
Eliseu não operava milagres como e quando ele bem entendia. Ele era um profeta guiado pelo Espírito de Deus, e,
em meu entendimento, se há uma razão descrita para que ele se sentisse incomodado a abençoá-la, é justamente porque ele percebeu que ela tinha este direito; esta mulher havia acionado a Lei do Dar e Receber!
Este texto não é apenas mais uma “coincidência bíblica”, e sim mais uma parte de um quebra-cabeças repleto de figuras e exemplos de que quem dá recebe!
MUITAS VEZES MAIS
Certa vez o apóstolo Pedro lembrou a Jesus de tudo o que eles, os discípulos, haviam deixado por Ele, e perguntou-Lhe qual seria a recompensa deles:
“Então, lhe falou Pedro: Eis que nós tudo deixamos e te seguimos; que será, pois, de nós? Jesus lhes respondeu: Em verdade vos digo que vós, os que me seguistes, quando, na regeneração, o Filho do Homem se assentar no trono da sua glória, também vos assentareis em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel. E todo aquele que tiver deixado casas, ou irmãos ou irmãs, ou pai, ou mãe ou mulher ou filhos, ou campos, por causa do meu nome, receberá muitas vezes mais e herdará a vida eterna.” Mateus 19.27-29
A resposta do Senhor Jesus Cristo ao apóstolo Pedro permite que entendamos alguns principios ligados à Lei do
Dar e Receber.
Em primeiro lugar, vemos que a recompensa de tudo o que fazemos (incluindo as nossas dádivas) não é meramente
terrena! Sempre há o aspecto celestial, o aspecto do galardão! O Senhor fala de uma dimensão de honra na eternidade, na glória celestial. Além do que provamos no reino natural ao darmos
a Lei do Dar e Receber também se estende ao reino espiritual.
Em segundo lugar, Ele fala que receberemos muitas vezes mais do que deixamos para trás por causa d’Ele: as coisas
terrenas! E é esta forma de recebermos que precisa ser entendida mais profundamente.
Jesus falou que receberíamos de volta algumas coisas que deixamos por amor a Ele, mas nem sempre recebemos coisas com as mesmas características da nossa entrega. Por exemplo, ao deixar casas e campos, não preciso recebê-los de volta “de papel passado”, mas posso me enquadrar na posição de receber, simplesmente por estarem à minha disposição!
Há momentos em que, na forma de recebermos o que damos, Deus nos poupa de nos centrarmos em nós mesmos.
Já afirmamos que uma das razões pelas quais Deus estabeleceu a Lei do Dar e Receber foi para quebrar o nosso
egoísmo, uma vez que somos tremendamente centralizados em nós mesmos. Logo, não podemos usar esta lei só por causa
nosso egoísmo, com a intenção de darmos para recebermos algo melhor em troca. Quando damos visando só o nosso beneficio próprio, quebramos um outro princípio bíblico e somos impedidos de recebermos. Observe o que diz a Palavra de Deus:
“Nada tendes, porque não pedis; pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres.” Tiago 4.2b,3
Depois de mostrar que muitos não recebem por não pedirem – o que indica que uma das formas de recebermos
de Deus é pela oração e súplica – Tiago denuncia que alguns, mesmo usando a oração, não alcançam nada de Deus! E a razão de não receberem de Deus é porque estão voltados só a si mesmos! Deus não pode alimentar o nosso egoísmo!
Jesus Cristo nos incluiu em Sua morte na Cruz exatamente para aniquilar este nosso egoísmo. Aí então Ele estabeleceu uma lei espiritual onde o nosso egoísmo cancela o funcionamento de outros princípios do reino espiritual. Isto se aplica com relação à oração e também com relação à Lei do Dar e Receber.
No entanto, Deus não nos impede de sairmos do enquadramento da Cruz! Precisamos aprender a dar, pelo ato de dar
em si, e não somente por causa da reciprocidade do receber.
A contribuição não pode ser considerada como uma espécie de título de capitalização, que eu invisto hoje só para
receber amanhã. Outros princípios se somam a Lei de Dar e Receber e deve haver um funcionamento em conjunto de todos estes princípios para que vejamos os resultados.
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